Por entre as rosas veio o vento a
falar de amor, seu perfume e seus espinhos. Do rubor que seduz ao passo que
cega, do aroma que cativa porque embriaga, dos espinhos que instigam, pois
privam.
Por entre os lírios veio o vento a
falar de Deus, suas dádivas e sua espada-de-fogo. Da fé que move montanhas
porque acredita, da esperança que é a última que morre, pois espera.
Por entre as árvores-em-flor veio
o vento a falar da vida, seus sabores e dissabores. Das raízes que garantem
sustento orgânico e moral, da semente donde a vida rebrota, dos frutos que se
colhe e os que caem de maduro.
Por entre os crisântemos veio o
vento a falar de morte, seu ponto final, nova linha e travessão. Da ausência do
ente-querido na cadeira vazia, no catre frio, da presença daquele na ausência
que se nega a ausentar-se.
Por entre as flores fala a poesia
num sopro quase inefável. Por entre as flores brilha a luz dos olhos dos
apaixonados. Por entre as flores conversam a mãe gestante e o filho que gesta.
Por entre as flores o silêncio canta uma canção. Por entre as flores estrelas
beijam gotas de orvalho.
De que adiantaria a primavera, se
não se pudesse estar por entre as flores?
(Danilo Kuhn)
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