segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Por entre as flores



Por entre as rosas veio o vento a falar de amor, seu perfume e seus espinhos. Do rubor que seduz ao passo que cega, do aroma que cativa porque embriaga, dos espinhos que instigam, pois privam.
Por entre os lírios veio o vento a falar de Deus, suas dádivas e sua espada-de-fogo. Da fé que move montanhas porque acredita, da esperança que é a última que morre, pois espera.
Por entre as árvores-em-flor veio o vento a falar da vida, seus sabores e dissabores. Das raízes que garantem sustento orgânico e moral, da semente donde a vida rebrota, dos frutos que se colhe e os que caem de maduro.
Por entre os crisântemos veio o vento a falar de morte, seu ponto final, nova linha e travessão. Da ausência do ente-querido na cadeira vazia, no catre frio, da presença daquele na ausência que se nega a ausentar-se.
Por entre as flores fala a poesia num sopro quase inefável. Por entre as flores brilha a luz dos olhos dos apaixonados. Por entre as flores conversam a mãe gestante e o filho que gesta. Por entre as flores o silêncio canta uma canção. Por entre as flores estrelas beijam gotas de orvalho.
De que adiantaria a primavera, se não se pudesse estar por entre as flores?


(Danilo Kuhn)



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