Como
é bom receber um elogio! Não me refiro àquele que se dá por educação,
muito menos àquele entregue sob a máscara da inveja. E elogio pela internet é
virtual. Me refiro ao elogio puro, ofertado ao elogiado com afeição, com
admiração.
Num mundo onde a competição envenena colegas de
trabalho, de sala de aula, e se infiltra até entre amigos ou dentro de uma
família, elogiar o outro pode ser interpretado pelo próprio elogiador como um
sinal de sua fraqueza, como se admirar um colega e expor isto demonstrasse sua
inferioridade perante o elogiado.
Na canção Esperando por mim (1996),
Renato Russo escreveu: "Cada um de nós imerso em sua própria arrogância
esperando por um pouco de afeição". As pessoas do nosso tempo tendem a se
fechar dentro de uma bolha - pode ser uma tentativa de se libertar do mundo
real, mas acabam por aprisionarem-se em seu próprio mundo. Da mesma canção:
"Digam o que disserem, o mal do século é a solidão"...
O elogio aproxima as pessoas. Estoura as bolhas. É
um sinal amor. Amor ao próximo. Isto soa estranho? Se eu me pergunto por que,
Renato Russo, novamente, me responde, e com sarcasmo: "Afinal, amar ao
próximo é tão demodé" (Baader-Meinhof Blues - 1984).
Se amar ao próximo está fora de moda, quem nos ama?
Somente nós mesmos? Alguns familiares, amigos? Isto é notadamente triste,
enquanto poderíamos demonstrar amor, carinho, admiração a tantas pessoas. E
estas à nós.
Ninguém é perfeito. E perfeição requer evolução. E para evoluir,
precisamos preservar o elogio, uma pura demonstração de afeto ameaçada de
extinção.
E para começar, tu, que leste este texto, te interessaste pelo assunto a
ponto de dispor teu tempo, este precioso bem da atualidade, és uma pessoa boa,
humilde, sensível e propensa à evolução. E te elogiar não me tornou menos bom,
humilde, sensível e propenso à evolução. Muito pelo contrário.
Preserva o elogio! Nós precisamos disto!
(Danilo Kuhn)