Me desculpe, tenho andado com tanta pressa... que olhar para o lado
significa desvio de percurso. Ontem, cansado do dia, na volta para casa, não
cumprimentei meu antigo colega de escola, para não perder segundos, para não gastar
um sorriso. Hoje pela manhã, ao sair de casa, não fiz carinho no meu cachorro, que me acenava com o rabo, pois teria de voltar para lavar as mãos. No caminho
para o trabalho, não desejei bom dia ao senhor que me olhou, cortês, porque despenderia
muita energia em desfazer meu semblante sisudo e meu cenho cerrado. No
escritório, não notei a arte pendurada nas paredes. No almoço, não senti a fragrância
dos temperos, nem o sabor dos molhos – e chupar uma bala sem mordê-la tornou-se
um exercício de paciência tão exigente... comparável a mais plena meditação. Não
vi as flores que me tentaram a atenção, com suas cores sedutoras. Sequer percebi
o perfume que o amor exalava ao passar por mim incontáveis vezes, em vão. Não
olhei para o céu estrelado para não diminuir a velocidade do carro. Não me
refresquei na chuva para não me molhar. Não olhei para trás porque não havia
nada de importante lá...
Quem vive com muita pressa acaba deixando-se para trás.