E foi Dona Aranha a tecer na linha das
horas sua obra-de-arte em forma de trama e armadilha. Que caçador é capaz de
caçar assim com tamanha beleza? A presa com pressa, sem olhos pra arte, ficou
presa. O bicho-homem na obra interviu. Por ânsia de destruir, destruiu.
E foi Dona Formiga a construir seu
armazém de areia de corredores, depósito e escritório. Abriu picadas e assentou
estradas, juntou estoque pra enfrentar o período de entre-safra, agregou
trabalho, não mediu esforços, trabalhou em cooperativa. Que associação é capaz
de funcionar assim com tanta eficácia? O bicho-homem na empresa interviu. Por
ânsia de destruir, destruiu.
E foi Dona Abelha de flor-em-flor a
buscar matéria-prima pra fabricar seu produto. Vasculhou todos os jardins,
vistoriou todas as árvores-em-flor. Cada operária numa direção, todas de volta
pra mesma colmeia, pro mesmo reino. Em seu Gabinete Real, a Rainha saboreia o
seu reinado que governa com autoridade e austeridade, isto lhe apraz. Que
Estado governa assim com tal competência? O bicho-homem no reino interviu. Por
ânsia de destruir, destruiu.
Vamos construir? Deixar de ver no outro
um rival, de pensar a vida como uma competição, de achar na felicidade e no
talento alheio motivo pra inveja, de destruir toda e qualquer possibilidade de
união, de cooperação, de entendimento, de trabalho em grupo... Destruímos laços
familiares, amizades e coleguismo, relações de afeto, patrimônio público,
teias-de-aranha e obras-de-arte, formigueiros e ambientes de trabalho, colmeias
e governo...
Sigamos o exemplo da natureza,
bicho-homem... Vamos construir?
(Danilo Kuhn)