Ele
apertou o passo, decidido, sem olhar pra trás; muita coisa ele deixava às
costas. Coisas ruins, coisas boas, mas que não mais o deixavam seguir adiante.
Caminhando, caminhando, até além do horizonte, pode ver o infinito de si mesmo,
em solidão. Muita coisa se vê apenas com o devido afastamento, principalmente
quando se tratam de coisas pessoais, íntimas, do âmago. A solidão é boa
companheira, quando se precisa estar só. A solidão é boa conselheira, quando se
precisa ouvir a si mesmo.
Portanto, não se encontrava sozinho, mesmo estando
só: pensamentos lhe faziam companhia. Sua vida mais recente se projetava, se
estendia a desdobramentos não ocorridos, mas que poderiam mudar tudo: futuros
possíveis de um passado solidificado. O passado é pedra entalhada que não se
pode reesculpir. É o mármore do tempo. Somente o pensamento volátil é quem o
pode remoldar, a esmo; logo evapora.
No alto da montanha, num papel ele escreveu: - O
amor é a lua e o sol, a poesia e a canção.
É uma busca eterna, os caminhos de si; cada passo
deixa marcas na estrada... Essas pegadas, nem mesmo o tempo pode apagar. Mas,
como se costuma dizer, o caminho se aprende caminhando. É justamente o mistério
de cada curva, de cada bifurcação, de cada horizonte distante, que torna
interessante, excitante a caminhada.
Na vida não há caminhos prontos ou uma só estrada
certa; o caminho é descobrir. Descobrir o caminho é uma viagem de
autoconhecimento: descobrindo o seu caminho, se descobre a si.
São caminhos tortuosos os do amor. A visão turva a
cada curva. O coração é um motor e um motorista cego que, por não ver a
estrada, não entende o momento de acelerar, frear, reduzir... Acidentes
acontecem. Mas sem o amor, o combustível desse carro, não se chega a lugar
algum.
O
amor é algo que nos completa e nos aflige, indissociavelmente; lá no alto da
montanha, num papel ele anotou: - O amor é a lua e o sol, a poesia e a
canção.
(Danilo Kuhn)