sábado, 25 de maio de 2013

Do alto dos meus trinta


Ainda ouço o eco da criança que trago dentro de mim e seu sorriso sincero acha uma brecha e outra entre os de plástico. Brinca com as palavras vez em quando, foge à rotina, e se diverte com coisas simples, como sentir sob os pés as bolinhas da trilha para deficientes visuais na calçada enquanto caminha sobre ela para fazer o serviço de banco.
Ainda reflito a luz da vida nos olhos vez em quando, embora o olhar já colecione mais dias nublados do que de céu aberto. Vejo o passado com romantismo, o presente com realismo, e o futuro com utopia. Abro os olhos para ver além, mas fecho-os quando vejo longe demais. A vida impõe lentes, às vezes com o grau errado, mas aprendi a olhar com os olhos do coração. E quando me deixam sem visão, me quebram o olhar, aguço os demais sentidos.
Do alto dos meus trinta, vejo os dois lados da montanha: a escalada já feita, e a descida que se apresenta a seguir. Se costumava olhar sempre para o topo, agora vou olhar para os lados, admirar a paisagem, sentir o aroma da brisa da vida, e conversar com o próximo que provavelmente eu não via à beira do caminho.
Do alto dos meus trinta, vejo melhor as estrelas a me guiar e ouço nelas a voz de Deus. Ela me lembra o que já aprendi, e o que devo aprender daqui para diante. Põe-me defronte ao espelho das minhas virtudes e dos meus defeitos, e nele eu posso ver os caminhos percorridos e os a percorrer, numa visão panorâmica.
Eu posso ver a vida aos meus pés, do alto dos meus trinta.

(Danilo Kuhn)