Quando tu tiveres caixas e mais caixas
de dias difíceis guardados, em que cada hora parecia uma eternidade de
angústia, em que o ar era pesado demais para se respirar, em que o cheiro de
tristeza estava impregnado em cada foto, em cada página, respira fundo, acha
coragem e joga fora.
Quando tu estiveres arrumando tuas
gavetas da lembrança e encontrares documentos de maus negócios, anotações de
planos que não deram certo, sonhos não realizados, sementes que não germinaram
por causa dos maus ventos, fecha os olhos, sem temer, e joga fora.
Quando tu olhares as fotos encrustadas
nas paredes da tua memória e perceberes que algumas esmaeceram, perderam as cores,
tornaram-se retratos em sépia ou em preto-e-branco, e os rostos já não são os
mesmos, já não dizem as mesmas coisas, já não representam o que já foram por
conta do trabalho incessante do presente, desprega-as e joga fora.
Tudo o que vivemos nos
transformou e continua nos transformando, isto independe de que guardemos
ou não. E guardar com muito apego nos impede de assimilar,
de transformar em nosso proveito.
Hoje, joguei tanta coisa fora... Mas
nada disso, nem por isso, vou esquecer. Apenas joguei ao vento as energias,
para que se renovem. Se remoemos o passado, andamos pra trás.
Arruma tuas coisas, revisita teus
baús, tuas gavetas, as paredes da tua memória. E tudo que já não serve, joga
fora. Faz bem.
(Danilo Kuhn)