Amigo
é irmão que se escolhe, membro da família elegido por indicação direta, parente
por vontade, ente-querido voluntário. Por vezes, nos entende e compreende mais
e melhor que nossa própria família, nos ajuda, aconselha e incentiva de maneira
mais eficaz e sincera.
Amigo
é o abraço que acolhe e saúda. Seja num momento de dificuldade, quando se
precisa de acolhida ou guarida, seja num reencontro efusivo e saudoso, quando o
que mais se quer é demonstrar o carinho e o afeto de um para com o outro, o
abraço aos amigos enlaça.
Amigo
não corta, nem tolhe. É capaz de abrir mão de si próprio para benefício do
outro. Amigo é amar ao próximo. Amigo é a mão que planta e colhe amizade.
Amigo
contigo se importa, é a voz e o ombro que conforta. Amigo ao outro é uma porta,
uma porta de um para o outro, uma ponte entre pessoas. Algumas pessoas são
quase intransponíveis, não constroem pontes verdadeiras; em lugar, abrem apenas
uma fresta da janela da sua casa interior, geralmente para uma espiadinha no
mundo dos outros lá fora, e para mostrar o mínimo ou uma falsa impressão do
mobiliário de suas salas. A internet,
inclusive, se mostra como uma janela ideal para tanto, para cada vez mostrar
menos de si e espiar mais dos outros. Mas o dia-a-dia também se mostra
receptivo a este tipo estranho de amizade: colegas de aula, em escolas de
ensino fundamental e médio e de nível superior, são capazes de passar anos
estudando na mesma sala e não estreitar laços; colegas de trabalho podem passar
uma vida trabalhando lado a lado, alcançando-se ferramentas ou peças, sem
construírem pontes, sem serem portas um ao outro; até mesmo casais conseguem a
façanha de viverem juntos sem serem amigos, sem amizade, sem amor.
Evidentemente,
não se precisa nem se consegue ser-se amigo de todo mundo. Existem diferenças
entre pessoas que impossibilitam tal feito. E também existem amigos que sabemos
que não são nossos amigos realmente e, portanto, com estes, não construímos
pontes. Isto é normal. Além disso, às vezes também construímos pontes de uma só
via, de mão-única, pois não há uma troca, não é recíproco: somos amigos, mas
não recebemos amizade de volta. Só vai, não volta.
No
entanto, e não importa que sejam poucos, existem os verdadeiros amigos, aqueles
do lado esquerdo do peito, aos quais devemos cultivar. Aqueles que mesmo com
suas diferenças para conosco, porque ninguém é igual a ninguém, conosco constroem
pontes de mão-dupla; para nós são uma porta, uma porta de um para o outro; seu
apreço não tem preço. E embora não seja necessária nenhuma troca de favores,
invariavelmente a relação de amizade verdadeira é recíproca, é mútua, é uma
troca.
Nós
seremos bons amigos quando ou enquanto sermos um para o outro
um abrigo. Eu contigo, tu comigo, de amigo pra amigo.
(Danilo Kuhn)