terça-feira, 19 de março de 2013

Realidade virtual


Ao navegar na internet, naufraguei em águas turvas. À deriva, fui malhado pela grande rede e me vi enredado às mazelas do vício, pois já não mais sabia viver sem gastar minhas horas em frente ao computador. Minha vida era um Facebook aberto, onde eu compartilhava com nem sei quem meus sonhos mais profundos, alardeava aos meus inimigos minhas vitórias e segredos, confessava a estranhos meus desejos mais secretos, publicava minhas derrotas e como me derrotar, curtia a vida dos outros e me esquecia da minha, espionava os demais e deixava-me vigiar, dava de bandeja a desconhecidos minhas ideias mais valiosas.
Minha memória era compartimentada em Pen Drives e HDs externos. O que fazer quando se perde 80GB de si mesmo? Quantos gigabytes comportam minha alma? Cada gripe é um vírus de computador, um malware, um cavalo-de-troia que me infecta quando minha vacina, ou melhor dizendo, meu antivírus, expira?
Minhas lembranças de infância ainda estão em disquete, e agora meu PC só lê DVD... Meus finais de semana no sítio se tornaram postagens no meu site... Meus jantares e minhas festas se transformaram em fotos no Instagram. Cada coisa que pensava se materializava no meu diário público no Twitter. Eu mesmo, via atualizações, dava minha localização a quem quer que fosse, qual fosse sua intenção em me seguir, sequestrar, roubar.
Hoje, acordei para a realidade, deixei para trás os acessos, os downloads, as visualizações, os compartilhamentos, as curtidas, os comentários, o bate-papo, o e-mail. Vou respirar o ar fresco da manhã, sentir o gosto das frutas apanhadas no pé, o aroma das flores e das suas cores que me acenam, o sabor dos beijos, o brilho do sol, a dança das nuvens e das árvores. Conversas sem teclar. Leituras com o livro nas mãos. Músicas com a magia do vinil. Notícias com cheiro de jornal.
Nada se compara à vida real. Não se iluda com a realidade virtual.

(Danilo Kuhn)



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