Ao navegar na internet, naufraguei em águas turvas.
À deriva, fui malhado pela grande rede e me vi enredado às mazelas do vício,
pois já não mais sabia viver sem gastar minhas horas em frente ao computador. Minha
vida era um Facebook aberto, onde eu compartilhava com nem sei quem meus sonhos
mais profundos, alardeava aos meus inimigos minhas vitórias e segredos,
confessava a estranhos meus desejos mais secretos, publicava minhas derrotas e
como me derrotar, curtia a vida dos outros e me esquecia da minha, espionava os
demais e deixava-me vigiar, dava de bandeja a desconhecidos minhas ideias mais
valiosas.
Minha memória era compartimentada em Pen Drives e
HDs externos. O que fazer quando se perde 80GB de si mesmo? Quantos gigabytes
comportam minha alma? Cada gripe é um vírus de computador, um malware, um
cavalo-de-troia que me infecta quando minha vacina, ou melhor dizendo, meu
antivírus, expira?
Minhas lembranças de infância ainda estão em
disquete, e agora meu PC só lê DVD... Meus finais de semana no sítio se
tornaram postagens no meu site... Meus jantares e minhas festas se
transformaram em fotos no Instagram. Cada coisa que pensava se materializava no
meu diário público no Twitter. Eu mesmo, via atualizações, dava minha
localização a quem quer que fosse, qual fosse sua intenção em me seguir,
sequestrar, roubar.
Hoje, acordei para a realidade, deixei para trás os
acessos, os downloads, as visualizações, os compartilhamentos, as curtidas, os
comentários, o bate-papo, o e-mail. Vou respirar o ar fresco da manhã, sentir o
gosto das frutas apanhadas no pé, o aroma das flores e das suas cores que me
acenam, o sabor dos beijos, o brilho do sol, a dança das nuvens e das árvores.
Conversas sem teclar. Leituras com o livro nas mãos. Músicas com a magia do
vinil. Notícias com cheiro de jornal.
Nada se compara à vida real. Não se iluda com a
realidade virtual.
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