Demorei muito para dormir, mas agora
consegui e de repente me vi aqui, guardando o seu sono. Você não me vê, mas me
sente quando acaricio o seu rosto nessas visitas noturnas que lhe faço enquanto
durmo.
Minhas mãos luzidias deixam transparecer
sua pele enquanto lhe toco a alva face envolta em brumas róseas e celestes do
alvorecer que já não tarda. Lágrimas alaranjadas de luz do sol descaem das
frestas da janela prenunciando o dia que nasce e o amor que se põe ao passo que
começo a despertar, a abandonar seu leito onde lhe velava o sono.
Aos poucos minha alma retorna ao
corpo, entorpecido de sua ausência. Enquanto desperto, ainda posso sentir o
calor do seu rosto nos meus dedos e o torpor do seu perfume dançando a me enlevar. Mas à
medida que a consciência vai recobrando de si, fica mais difícil desvelar o
emaranhado de sensações impregnadas à essência do espírito, deixando-se apenas
adivinhar pelo brilho do olhar, ainda um pouco embaçado de sono.
Xícaras de café, água no rosto,
claridade, ardis que a alma finge aceitar como verossímeis para devolver ao
corpo os reflexos e os sentidos necessários ao dia. No entanto, nos recônditos,
o pano-de-fundo dos pensamentos me sussurra o seu nome em meio à névoa do
cotidiano.
As imagens que a alma contempla em sonhos
ela guarda em nós de forma insondável, mas inegável. Não percebemos que nosso
inconsciente é nossa alma, consciente, a nos guiar, sob o codinome do acaso.
Temos um inconsciente vivo dentro de nós. Escuta?!
(Danilo Kuhn)
Oiiii. Danilo adorei. Bjo.
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