segunda-feira, 25 de junho de 2012

Crônica de inverno


         No inverno Sempiterno do meu coração, onde o sol não brilha nem aquece, onde o vento sopra pungente, onde a neve encobre e sufoca toda e qualquer vegetação ou forma de vida, uma rosa de gelo cultivo com esmero. Foi-me rósea herança de uma outra estação, de quando a vida florescia em primavera.
         Rosa cálida de tantas palavras vãs sussurradas ao pé do ouvido do infinito, que ecoaram à esmo pelos abismos do meu peito sem se fazerem ouvidas; rosa pálida de tantos desenganos a lhe esmaecer e lhe roubar o viço; rosa gélida a contemplar amanheceres sem manhãs, sem abrir ao sol suas pétalas de vidro.
         Meu coração já não bate, treme de frio. Ele outrora fora brasa a arder em calor, agora congela, padece em calafrio. Na estação passada, batia com vigor, sempre avante pelos confins dos jardins, porém, desprecavido. Não soubera a tempo que é nestas estações abundantes que se estoca mantimentos: deve-se estar preparado para o inverno do amor.
         Ainda assim, rego com lágrimas a flor; lágrimas que me descem a face num gelado caudal; que me vertem dos olhos estilhaçados e que antes de tocarem o chão já se veem cacos de gelo.
         Quem sabe uma taça de vinho tinto devolva à minha rosa o rubor; quem sabe o frio intenso aproxime corpos gelados; quem sabe a sustância das massas e dos molhos ou o aconchego que a lareira traz à dois e somente à dois, pois do contrário é apenas solidão, reaqueça o coração ou abrande seus tremores; quem sabe, General Inverno, quem sabe. Quem sabe? Hoje, sou apenas inverno à espera da primavera do amor.

(Danilo Kuhn)



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