No inverno Sempiterno do meu coração,
onde o sol não brilha nem aquece, onde o vento sopra pungente, onde a neve
encobre e sufoca toda e qualquer vegetação ou forma de vida, uma rosa de gelo
cultivo com esmero. Foi-me rósea herança de uma outra estação, de quando a vida
florescia em primavera.
Rosa cálida de tantas palavras vãs
sussurradas ao pé do ouvido do infinito, que ecoaram à esmo pelos abismos do
meu peito sem se fazerem ouvidas; rosa pálida de tantos desenganos a lhe
esmaecer e lhe roubar o viço; rosa gélida a contemplar amanheceres sem manhãs,
sem abrir ao sol suas pétalas de vidro.
Meu coração já não bate, treme de frio.
Ele outrora fora brasa a arder em calor, agora congela, padece em calafrio. Na
estação passada, batia com vigor, sempre avante pelos confins dos jardins,
porém, desprecavido. Não soubera a tempo que é nestas estações abundantes que
se estoca mantimentos: deve-se estar preparado para o inverno do amor.
Ainda assim, rego com lágrimas a flor;
lágrimas que me descem a face num gelado caudal; que me vertem dos olhos
estilhaçados e que antes de tocarem o chão já se veem cacos de gelo.
Quem sabe uma taça de vinho tinto
devolva à minha rosa o rubor; quem sabe o frio intenso aproxime corpos gelados;
quem sabe a sustância das massas e dos molhos ou o aconchego que a lareira traz
à dois e somente à dois, pois do contrário é apenas solidão, reaqueça o coração
ou abrande seus tremores; quem sabe, General Inverno, quem sabe. Quem sabe?
Hoje, sou apenas inverno à espera da primavera do amor.
(Danilo Kuhn)
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