quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

À sombra da vaidade



Nada do que faço faz sentido oposto a mim, é crime ou contravenção eu me contrariar. Solidariedade? Sou solidário a mim mesmo. Se eu preciso de mim, lá estou, prontamente, para estender-me a mão.
Mas... É claro que meus planos também incluem outras pessoas ao meu redor: eu sou o centro! Hahaha! Tudo gira em torno de mim! Meus desejos, minhas vontades, minhas fantasias... E ninguém me tira satisfação, não! Não paro enquanto não estiver satisfeito.
A minha imagem no espelho, pálida, olhos vermelhos, rosto molhado, são armadilhas para me enganar... Eu sei que sou feliz de fato, sou egoísta e assim me basto, não há motivos nem ninguém para chorar. Pensa bem! Eu me preocupo apenas comigo mesmo, me responsabilizo apenas pelos meus próprios atos e estes, interferem apenas na minha vida. Não tenho fardos! Sou leve, livre, solto.
Se às vezes me apanho em solidão é por vaidade, pois companhias eu tenho a mim mesmo. Converso comigo e nunca há discussão, briga, desentendimento. Concordo comigo em gênero, número e grau. Nunca vi tanta sintonia! Também pudera, eu conheço a mim como ninguém, e ninguém conhece tão bem a mim quanto eu.
Soberba, isto sim eu não suporto, é virtude que é só minha. Não admito ninguém além de mim e de eu intervir em meus assuntos. Ninguém além de mim e de eu me corrige, me critica, ou até mesmo me elogia ou me conforta.
Quanto ao amor? É só ilusão! Desiste. Ninguém te ama, te amou ou vai te amar além de tu mesmo. Eu me amo! Não posso viver sem mim. Eu me amo, eu me basto, eu me entendo. E acima de tudo, eu me governo, sou meu Estado, minha lei, minha ordem, meu amor, minha religião, minha vida. Minha vida, não divido com ninguém, não! Não adianta vir com essa voz gentil, esse sorriso sincero, esse olhar cristalino, essas palavras luzidias, essas mãos, essa boca... Na minha vida, não entra ninguém. Entendeu? Ninguém! Eu não preciso de ninguém... Eu preciso apenas de mim... Eu me amo, eu me basto, eu me entendo...
Além do mais, eu vivo na santa paz do meu silêncio, da minha solidão, de mim mesmo e ninguém mais.
Nada me incomoda, nada me estressa, nada me conflita, nada me tira do meu centro, nada me desassossega, nada me desconforta... Estou à sombra da minha vaidade.

(Danilo Kuhn)





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