terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Crônica afônica I


Desta vez, concebi minha crônica sem final; uma crônica afônica, cansada de falar, já sem voz; calada perante os olhos desviantes; atônita frente ao espelho.
Minha crônica consente sua inexistência, assume o anonimato, faz-se desistir. Suas letras brancas sobre o fundo branco, página virada antes mesmo de ser lida.
Acometida por doença crônica, minha crônica definha sem ter nascido.
Àqueles que não a leram, resume-se a nada. Àqueles que a leram, não passa de ilusão.
Minha crônica-miragem morre de sede no oásis. Minha crônica-sonho desperta em amnésia.
Seu discurso mudo não mudou o mundo. Suas linhas tortas são ilegíveis. Seu verso não conversa. Seu verbo não tem verba. Seu corpo é inócuo, continente sem conteúdo. Sua música: um minuto de silêncio.
Ela não diz nada porque já disse tudo.

(Danilo Kuhn)



2 comentários:

  1. Ficamos simplesmente, sem palavras!...
    M A R A VI L H O S O !!!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Este comentário foi removido por um administrador do blog.

      Excluir