O amor
da minha vida da última semana eu virei para o lado e ele já não estava. O amor
da minha vida da última semana dormiu comigo e eu acordei só. O amor da minha
vida da última semana quando eu fiquei sóbrio já não existia. O amor da minha
vida da última semana tirou a maquiagem e ao ver sua verdadeira face não o
reconheci. O amor da minha vida da última semana eu toquei seu coração e era
frio como vil metal.
Coitado do amor, este procurado por legiões de
detetives em causa própria, foragido de corações carentes, fugitivo de moças e
rapazes na flor da idade e de todas as idades.
Procuram-no nos carnavais, sob a máscara do desejo,
o ardil de um beijo, o calor do momento, a estiagem do coração e suas miragens.
Procuram-no nos bares, em copos, sorrisos de plástico e olhares fugazes, numa
cantada rasa delatora de intenções pouco amorosas, numa conversa fiada em
novelos de trabalho bem-sucedido, na oferta pretensiosa de um drinque a dois.
Procuram-no, inclusive, em festas onde o som é tão alto que toda e qualquer
tentativa de diálogo resume-se a declarações pouco românticas na intimidade e
intimidação ao pé do ouvido.
O amor é foragido da ilusão da beleza, que pode
vestir corpos ocos de interesse, de inteligência, de sentimento, de caráter. O
amor é foragido do verniz do dinheiro, capaz de dar brilho ao mais opaco dos
seres, a mais obscura das almas. O amor é também um foragido do tempo, pois tem
sua própria temporalidade, possui uma imprevisibilidade intrínseca,
indissociável, imensurável.
O amor é fugitivo da razão, que teima em achar
explicação para tudo e todos, em julgar, em prever. O amor é fugitivo do ciúme,
da posse, do cerceamento, do tolhimento, da intriga, da manipulação, do
joguete, da mentira, da traição. O amor é fugitivo dos corações vazios de amor,
ciosos de luxúria, de curtição, de prazer somente.
Nestes tempos de relacionamentos descartáveis, onde
palavras e gestos e sentimentos são fugidios e escorregadios, a maior vítima é
o amor. O amor não foge dos que o buscam, apenas não frequenta os mesmos lugares.
Se eu procurar o amor na ilusão, meu coração será
castelo de areia.
(Danilo
Kuhn)
Nenhum comentário:
Postar um comentário