Mas que floresta
estranha é essa? Eu vejo luzes, cores e flores artificias... Sorrisos de
plástico brotam feito erva-daninha e demoram uma eternidade para se decomporem,
não são biodegradáveis. Aqui o tempo passa tão depressa que sufoca, devora, e a
manada já não sabe aonde vai por não ter pr’onde ir. Por instinto, são todos
iguais, aonde um vai, vão todos, ainda que seja p’ra lugar algum.
Tem relva e árvores
de concreto, jardins de aço, veredas de asfalto, e a brisa cheira à óleo
diesel, pneu queimado e gasolina. Há rios de esgoto à céu aberto onde peixes de
garrafa-pet e de papelão mergulham em água turva. No horizonte acinzentado, são
nuvens de fumaça a neblina que se ergue e que rarefaz o ar.
Nessa floresta habita
o homem coração-de-pedra, em seu habitat artificial, a contar vil metal. Como
quem ateia fogo em sua própria casa, ele destrói a si e a tudo em volta,
queimando o ar, turvando o céu, nublando a água, ferindo sentimentos e cortando
laços. Volta-se contra sua natureza ao desmatar a vida e superaquecer ganância,
ao cultivar rosas-de-hiroshima e plantar a guerra e a morte de irmãos. Um
autogenocídio, assassinatos em série de si mesmo, suicídios em massa.
E a floresta de
pedra não para de crescer... Estende suas raízes por quilômetros, que aqui e ali
emergem da terra para se alastrar aos brotes, ramos, troncos, galhos de
concreto e metal. Suas sementes viajam milhas e milhas com os ventos quentes e
malcheirosos, semeando cinzas e consumindo verdes.
A selva de pedra
tem pressa, atropela. Ela te quer, quer teus filhos, teus netos, teus
cachorros, gatos e toda e qualquer criação ou plantação, animais silvestres,
quer pomares, hortas, pastagens, sítios, chácaras, fazendas, estâncias, léguas
de terra, sesmarias, mata virgem e floresta tropical. Ela tem fome de campo e
de verde, sede de água pura e cristalina, poças, poços, sangas, açudes, valos,
marachas, riachos, arroios, rios, lagoas, mares. Ela não se sacia nunca. Ela
vai te engolir. E não há gruta que te proteja, não há mata que te refugie, não
há buraco que te esconda.
A selva de pedra
está chegando, ela vai te encontrar, vai te seduzir e depois te trucidar. O fim
está próximo, e não há salvação, pois ninguém pode te salvar de ti mesmo,
ninguém. De que adianta orares a Deus por mudança enquanto tu fechas os olhos
aos teus erros, vaidades e mediocridades? A selva de pedra está chegando. E ela
vai te petrificar. E serás apenas mais um entre todos coração-de-pedra.
(Danilo Kuhn)
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