Inebriado
de poesia, apaixonei-me pelo sorriso da lua. Sorriso disfarçado por véus de
nuvens que velavam sua forma mas lhe emprestavam o mistério de uma luz detrás
da cortina. Sorriso noturno de alumbrar coração perdido em noites de solidão
madura e crua a perambular por tabernas úmidas e desabitadas de amor. Sorriso
inacessível que sorri mas nega seus lábios aos reles mortais entregues aos
vícios da carne e cegos à resplandecência do espírito. Sorriso preciso, na
medida certa do que eu preciso.
Aquela moça tem o
sorriso da lua. Seus cabelos lisos e negros dançam sobre sua boca e lhe velam
os lábios sutil e escandalosamente levando-me a querer cada vez mais desvendar
o seu sagrado mistério. A noite que lhe envolve lhe realça o lume e abraça e
aquece os meus olhos opacos de tão sós; meu coração palpita na garganta e me
rouba a voz; meu espírito aprisionado no invólucro carnal se agita tanto que
quase abandona o corpo que por isso treme; toda esta confusão me paralisa ao
passo que já não caibo mais em mim.
A moça passa por mim sem que eu
consiga mover um dedo sequer, ainda que em meus interiores haja vulcões em
erupção, tempestades, tornados, tremores de terra e maremotos; aquela musa
expõe sua graça de tal forma que ao mesmo tempo em que se põe na praça se nega ao
freguês pela sua magnitude como fosse peça da Arte-Divina, Obra-Prima de Deus.
Ela tem o sorriso preciso e
infinito, na medida certa do que eu preciso.
(Danilo Kuhn)
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