quinta-feira, 26 de julho de 2012

O sorriso da lua


Inebriado de poesia, apaixonei-me pelo sorriso da lua. Sorriso disfarçado por véus de nuvens que velavam sua forma mas lhe emprestavam o mistério de uma luz detrás da cortina. Sorriso noturno de alumbrar coração perdido em noites de solidão madura e crua a perambular por tabernas úmidas e desabitadas de amor. Sorriso inacessível que sorri mas nega seus lábios aos reles mortais entregues aos vícios da carne e cegos à resplandecência do espírito. Sorriso preciso, na medida certa do que eu preciso. 
Aquela moça tem o sorriso da lua. Seus cabelos lisos e negros dançam sobre sua boca e lhe velam os lábios sutil e escandalosamente levando-me a querer cada vez mais desvendar o seu sagrado mistério. A noite que lhe envolve lhe realça o lume e abraça e aquece os meus olhos opacos de tão sós; meu coração palpita na garganta e me rouba a voz; meu espírito aprisionado no invólucro carnal se agita tanto que quase abandona o corpo que por isso treme; toda esta confusão me paralisa ao passo que já não caibo mais em mim. 
A moça passa por mim sem que eu consiga mover um dedo sequer, ainda que em meus interiores haja vulcões em erupção, tempestades, tornados, tremores de terra e maremotos; aquela musa expõe sua graça de tal forma que ao mesmo tempo em que se põe na praça se nega ao freguês pela sua magnitude como fosse peça da Arte-Divina, Obra-Prima de Deus.
Ela tem o sorriso preciso e infinito, na medida certa do que eu preciso.

(Danilo Kuhn)


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