Ainda ouço o eco da criança que trago dentro de mim
e seu sorriso sincero acha uma brecha e outra entre os de plástico. Brinca com
as palavras vez em quando, foge à rotina, e se diverte com coisas simples, como
sentir sob os pés as bolinhas da trilha para deficientes visuais na calçada
enquanto caminha sobre ela para fazer o serviço de banco.
Ainda reflito a luz da vida nos olhos vez em
quando, embora o olhar já colecione mais dias nublados do que de céu aberto.
Vejo o passado com romantismo, o presente com realismo, e o futuro com utopia.
Abro os olhos para ver além, mas fecho-os quando vejo longe demais. A vida
impõe lentes, às vezes com o grau errado, mas aprendi a olhar com os olhos do
coração. E quando me deixam sem visão, me quebram o olhar, aguço os demais
sentidos.
Do alto dos meus trinta, vejo os dois lados da
montanha: a escalada já feita, e a descida que se apresenta a seguir. Se
costumava olhar sempre para o topo, agora vou olhar para os lados, admirar a
paisagem, sentir o aroma da brisa da vida, e conversar com o próximo que
provavelmente eu não via à beira do caminho.
Do alto dos meus trinta, vejo melhor as estrelas a
me guiar e ouço nelas a voz de Deus. Ela me lembra o que já aprendi, e o que
devo aprender daqui para diante. Põe-me defronte ao espelho das minhas virtudes
e dos meus defeitos, e nele eu posso ver os caminhos percorridos e os a
percorrer, numa visão panorâmica.
Eu posso ver a vida aos meus pés, do alto dos meus
trinta.
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