sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Abraço de pai


O pai é pura e cristalina água de poço quando há sede na vida, e sempre há... Da vertente bebe o moço conselhos, rumo e guarida para si e para os seus.
O pai é a estrada certa da encruzilhada; é o caminho já trilhado com o seu aprendizado. Do horizonte, o pai aponta o norte em noite serena e estrelada.
O pai é o cerno do angico nas noites de ventania, que verga os ombros, mas não tomba. O pai aquece o rancho de carinho e abrigo nos tempos de invernia.
O pai, por ser vaqueano, vai repontando a tropilha, e na invernada dos anos, estende-se como o esteio de sua família.
O pai acolhe o filho como se fosse um abraço.
Um abraço pode ser, à primeira mirada, um gesto simples. Mas este enlace pode significar muito perante as ausências, ou ante aos erros, ou frente às mágoas. Pode também trazer conforto, ou alegria, matar saudade, dar ou pedir perdão, um boa-sorte ou um seja-bem-vindo. Quem pode mensurar um abraço? Ou cronometrar seu tempo de efeito?
Um abraço pode medir quilômetros e abraçar todo o teu mundo. Um abraço pode durar dias te abraçando.
O relógio não é uma invenção da alma; em seus ponteiros, poucos segundos, mas após dias e dias, o abraço continua te abraçando...
Algumas presenças não se ausentam, apenas prenunciam o próximo encontro. Algumas presenças são um presente, mesmo enquanto ausentes. Agora mesmo, um abraço pode ainda estar te abrançando.
Filhos seguem sua trilha e do pai repisam os passos... Tentam abraçar o mundo, alçam voo, lançam-se ao vento, mas quando o vento sopra contra, ou uma asa se quebra, ou quando o mundo não cabe entre os braços, o abraço do pai é o melhor abrigo. E o pai acolhe o filho, como se fosse um abraço.

(Danilo Kuhn)




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