quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Uma manhã na praia

O som das ondas tem uma constância imperfeita em comparação com o tique-taque do relógio, talvez por isso o tempo lá é mais maleável, mais fluído. No escritório, os segundos são implacáveis como a rotina. Na praia, o tempo se dilata, se alonga na costa, se apazigua na enseada.
O movimento das ondas é assimétrico, mas perfeito. Nenhuma outra coisa é capaz de mover-se em bagunça tão bela e ordenada. Nas ruas, o movimento em mão única revela-se, por sua vez, feio e caótico. O homem se perde pelos caminhos que ele mesmo construiu, na desordem que ele mesmo ordenou. As ondas, alheias, sabem de cor seu caminho e sempre chegam à margem, belamente.
O brilho do sol também é impreciso e maravilhoso em seu pontilhar luzidio no lombo das ondas. Nem a joia mais cara saberia ser bela com a falta do cálculo, com a mão do acaso, com o sopro do improviso.
A vida é isto. Uma praia. Inconstante, imperfeita, assimétrica, imprecisa e imprevisível, porém, bela. Se não fosse o bicho-homem...
(Danilo Kuhn)

3 comentários:

  1. lindo... admiro teu pai como amigo e artista , agora lendo tua cronica lembrei que filho de peixe , peixinho é. Te admiro tbm como artista ...parabéns Danilo !!!!!! abraço Nani

    ResponderExcluir
  2. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir